sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um dia na república

Quinta feira, nove e trinta da noite. O som que sai da casa 101 se assemelha ao barulho do metrô na hora do rush. Mas não se engane, esse é apenas mais um fim de noite na república da dona Ana, também conhecida como a casa das 17 mulheres. Aqui, 17 moças vindas dos mais diferentes pontos do Brasil, dividem não só quartos e banheiros, mas também os seus medos, anseios, amores e perspectivas de futuro.
O cansaço chega em forma de bocejo, mas para essas jovens, a noite é uma criança, pois o dia foi longo e há muita história para contar. Quando se vive assim, tão longe de casa, com pessoas tão diferentes, o desconhecido vira amigo e as colegas de quarto, irmãs, prontas para ouvir, aconselhar, bronquear e ajudar no que for preciso.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep, a maioria dos jovens que estão na universidade e que não estudam na sua cidade de origem, mora em pensionatos. A principal razão é o custo reduzido que esse tipo de moradia oferece.
Esse foi o fator que levou a estudante do sexto período de medicina, Elizabeth Ferreira a optar por uma república quando veio estudar na UERJ:
- Quando eu passei no vestibular, a minha grande preocupação foi encontrar um lugar para morar. Eu sabia que alugar um apartamento seria muito difícil para os meus pais. Então quando eu fiquei sabendo dessas casas de estudantes que tem perto da faculdade fiquei aliviada.
Uma outra vantagem de morar numa república é a facilidade que se tem para fazer amigos, principalmente quando se mora com muita gente. Cria-se um laço afetivo muito grande.
Para a baiana Fernanda Gonçalves de 20 anos, que está de passagem pela sua quinta república, esse laço existe por conta do tempo de convivência:
- Ficamos muito tempo juntas. Saímos nos finais de semana, conversamos sobre tudo, cozinhamos no mesmo horário, cria-se um contato, um vínculo muito forte.
A mineira Sofia de Araújo de 18 anos vai além:
- Posso dizer com toda certeza que eu tenho mais intimidade com as minhas colegas de quarto do que com a minha irmã.
Esse ambiente familiar, acolhedor ajuda muito na hora que a saudade aperta. As estudantes que moram em outros estados chegam a ficar seis meses sem ir para casa. Nessas horas a união do grupo faz toda diferença.
- A gente tem a sensação de que está convivendo com uma grande família. Quando uma de nós está se sentindo um pouco triste, logo aparece alguém para tentar levantar o nosso astral. Diz Sofia
Mas nem tudo são flores. Em uma casa com quatro quartos, 17 mulheres e muitos problemas, vez ou outra os ânimos se afloram. Aí as brigas são inevitáveis. Um dos geradores mais freqüentes de desavenças na pensão é o barulho depois do horário.
A falta de privacidade também azeda a relação das jovens. A falta de espaço e número elevado de moradoras impede que as estudantes tenham um espaço para estudar sem que sejam interrompidas pelo barulho da TV, do rádio ou das conversas entre as meninas.
A estudante de Serviço Social Gabriela Rocha afirma que o seu refúgio é a biblioteca da UERJ:
- Tenho muita dificuldade para me concentrar, principalmente quando o texto é muito complexo. Daí, todas as vezes que preciso ler alguma coisa, vou para a biblioteca. Lá é silencioso e eu consigo estudar.
Para Maria Ana, mãe de Gabriela, por mais que a pensão tenha seus problemas ela ainda é a melhor opção:
- Fico muito preocupada com a minha filha longe de casa. Sei que morar com muita gente tem seu lado ruim, mas também é muito legal. Ela conhece muita gente e nunca está sozinha. Isso me deixa um pouco tranqüila.
E conclui:
- Por mim ela nunca teria saído de casa. Mas os filhos não são nossos, são do mundo. Diz ela